s aspiradores de mosquitos podem ser uma ferramenta auxiliar no monitoramento do aedes aegypti,
o transmissor da dengue? Um trabalho desenvolvido no mestrado
profissional em Saúde Pública da Fiocruz Pernambuco aponta que sim. A
autora, a bióloga e supervisora de vigilância entomológica do Centro de
Vigilância Ambiental do Recife, Vânia Nunes, avaliou o uso desses
aparelhos no monitoramento da densidade populacional do aedes, em áreas endêmicas do Recife.
A pesquisa foi realizada no período de um ano, em duas áreas do
bairro de Nova Descoberta, na Zona Norte da cidade. O local foi
escolhido por possuir altos índices de infestação, com recorrentes
notificações de casos da doença, e uma rede estruturada de ovitrampas
(armadilhas, também desenvolvidas pela Fiocruz Pernambuco, para coleta
de ovos de mosquito), implantada desde 2009. As duas áreas têm a mesma
dimensão, 0,3 km2, porém na área 1 foram selecionados 50 imóveis e, na
2, um total de 25. A cada mês, as residências pesquisadas tiveram todos
os cômodos aspirados durante 15 minutos, por três dias consecutivos,
sempre no começo da manhã. No total, foram coletados 2.133 mosquitos aedes,
sendo 1.230 fêmeas - as responsáveis pela transmissão da doença.
Proporcionalmente, a área com menos imóveis apresentou maior infestação
que a área com mais imóveis. Nesta última, foram realizadas 600
aspirações, sendo 284 (47%) positivas para A. aegypti, enquanto
a área 2 recebeu 300 aspirações, com positividade em 180 (61%). Embora
não fossem objetos da pesquisa, a aspiração permitiu coletar também
11.564 exemplares de culex quinquefasciatus, mosquito de grande importância epidemiológica por ser o transmissor do parasita causador da filariose linfática.
Aspiradores usados estavam ociosos
Os números de mosquitos coletados revelam a importância do aspirador
no controle das doenças causadas por esses vetores. No caso do aedes,
a fêmea infectada permanece transmitindo o vírus da dengue ao longo de
todo o seu ciclo de vida, que dura em torno de 45 dias. “Trata-se de um
vetor complexo de controlar”, explica a orientadora do trabalho e
pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Cláudia Fontes. “São indivíduos
muito estratégicos, com um poder de adaptação muito grande, que estão
desafiando a nossa inteligência, em todos os aspectos. Cada nova técnica
adotada no monitoramento ajuda a conhecer mais sobre o mosquito e na
adoção de estratégias de controle”, afirmou.
A ideia de desenvolver essa pesquisa, no mestrado profissional,
surgiu a partir da constatação que os aspiradores de mosquito recebidos
pela Prefeitura do Recife, em 2007, para coleta do culex,
ficavam ociosos por longos períodos. “Como não se trata de coleta
contínua, esses equipamentos ficavam guardados. Daí a idéia de
utilizá-los também para a captura do Aedes”, explicou Vânia. “O mestrado
profissional traz para você esta responsabilidade, que o resultado
final seja utilizado, se torne uma coisa útil”.
A partir desses dados, Vânia considerou bem sucedida a ideia de
fomentar o aspirador como mais um instrumento de monitoramento, que atua
na fase adulta do mosquito aedes. “Trata-se de uma ferramenta
ambientalmente limpa, que pode vir a reduzir o uso dos inseticidas”,
acredita a bióloga. “Em vigilância ambiental um só método não resolve.
Se for possível acompanhar mais fases da vida do inseto é melhor”,
ponderou.
Fonte://portal.fiocruz